sexta-feira, 19 de junho de 2009

Chronique - L'individualisme à la française

"L'individu s'oppose à la collectivité, mais il s'en nourrit.Et l'important est bien moins de savoir à quoi il s'oppose que ce dont il se nourrit".
― André Malraux (écrivain)
("O indivíduo se opõe à coletividade, mas se alimenta dela. E é bem menos importante saber a que ele se opõe que do que ele se alimenta").
Nos tempos hodiernos é o "eu" quem costuma prevalescer sobre o senso coletivo d'outrora. O iluminista convencionou chamar por individualismo essa prevalescência do "eu".
Montesquieu, Voltaire, Diderot, Rousseau são desse tempo. E o que eles têm em comum? Ora, todos viveram no "século das luzes", e não só; na França. Daí uma tradição cultural delineou-se séculos a fio, e até hoje costuma-se dizer dos franceses um povo individualista. À reflexão sobre esse lugar-comum, ele não esconde muito a ser refutado não. Aliás, sob um certo aspecto, é bem verdade que o são. Quem já respirou os ares franceses por um bom tempo afirma sem titubear que os franceses são deveras individualistas: são capazes de conviver com as mesmas pessoas todos os dias e não se falarem; de tomar o mesmo TGV (o Train à Grande Vitesse - um tipo de metrô de alta velocidade) itinerário Paris - Bordeaux, por exemplo, fechados em seu "eu". Mas isso não é só lá. Pensando bem, a sociedade contemporânea está configurada nesses moldes. É-se individualista em toda parte, havendo tão-somente algumas variações. No Brasil talvez essa individualidade seja um pouco menor. Haja vista eu, por exemplo, não fico tagarelando com a pessoa que ocupa o assento ao lado do meu na condução — embora vez ou outra dou o azar de estar num ônibus onde um-alguém-desconhecido-que-tem-necessidade-de-se-fazer-conhecer-e-notar-a-todos também esteja dando o ar da graça. Sabe aquelas pessoas vindas sabe-se donde num momento inesperado e que do nada nos contam a vida em alguns minutos?! Pior que isso acontece, e como!
Por outro lado...os franceses reservados e introvertidos são os mesmos que se reúnem em festivais e datas comemorativas, eventos nacionais ou esporádicos (como foi o caso da vitória da equipe francesa de futebol na copa do mundo de 1998, que os brasileiros só querem é esquecer) e cantam, dançam, se divertem, celebram, e compartilham de um inacreditável espírito comunitário. O cidadão francês está no coeur da vida política, milita pelas causas que defende e ganha às ruas com expressividade, fazendo jus ao lema de sua bandeira, cunhado quando da revolução francesa: liberté, égalité, fraternité. É entre extremos de uma dicotomia que essa França se nos reafirma em toda sua diversidade. Individualistes et en même temps convivials ; cela dépend du point de vue.



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